Este relato de experiência refere-se a reflexões que surgem a partir de afetações, originadas nos atendimentos psicoterapêuticos de um usuário na Atenção Primária à Saúde (APS). Este usuário é um adolescente que se identifica enquanto transgênero, e sua vivência se encontra atravessada por inúmeras violências e sofrimentos. Logo, o objetivo deste relato é analisar e refletir sobre os desafios e potencialidades envolvidos no atendimento de um caso complexo de um adolescente trans atendido na APS. A metodologia utilizada foi a cartografia, pois concebe sujeito e objeto como indissociáveis e visa ao desmanchamento de mundos (como o da cisheteronormatividade) e a produção de outros. Enquanto resultados e discussão, há a divisão de quatro sessões de análise: a relação do atendido com o mundo, com seu corpo, com as pessoas e com seu passado e futuro. São trazidas discussões e afetações quanto ao estresse e vulnerabilidade de grupos minoritários, o cuidado às pessoas trans no serviço público, o uso da arte em atendimentos, o relacionamento de adolescentes com sua imagem corporal e alimentação e, por fim, a atenção a vítimas de violência sexual. O atendido é atravessado por todas essas questões e, nas considerações finais, aponta-se a importância do fortalecimento da rede de apoio, do trabalho interdisciplinar e intersetorial, de uma prática baseada em estudos de gênero na APS, e da criação de futuros estudos que aprofundem em outras questões. este relato de experiência esteve atravessado pelas minhas próprias afetações, o que viabilizou reflexões, sempre permeadas pela intenção de fortalecer a luta pela produção de novos mundos.